ALL começa a testar o uso de biodiesel em locomotivas 13/01/2004 - 00:00

Derivado de álcool e óleo de soja, o novo combustível polui menos.

A América Latina Logística (ALL), empresa que opera a malha ferroviária sul, vai adotar o biodiesel como combustível para sua frota de trens no Brasil. A empresa está iniciando os primeiros testes práticos com um biodiesel derivado do álcool etílico e do óleo de soja em um trecho de 400 quilômetros entre São Paulo e Paraná. A meta é substituir até 25% do diesel derivado de petróleo nas 380 locomotivas da empresa que operam no país até o final do primeiro semestre de 2004, segundo Sérgio Pedreiro, diretor financeiro da América Latina Logística.

Desempenho igual

"Queremos que do consumo anual de 150 milhões de litros de diesel, pelo menos 35 milhões sejam substituídos pelo biodiesel", afirma. A ALL calcula que o projeto, inédito no setor, poderá reduzir em até 20% a emissão de poluentes sem que haja qualquer alteração no desempenho das locomotivas. Segundo Pedereiro, testes de laboratório e de bancada com o biodiesel realizados em parceria com o Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel), da USP, demonstraram resultados bastante similares de potência, consumo e temperatura ao do combustível mineral.

"O próximo passo é verificar o desempenho nos trilhos. Estamos colocando em teste pelos próximos três meses duas locomotivas com o biodiesel misturado ao diesel e duas abastecidas apenas com o produto mineral para compararmos índices de acúmulo de resíduos e desgaste de peças", afirma. A ALL também está iniciando testes de laboratório e de bancada com o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que desenvolve, desde 1998, experimentações em campo de biodiesel derivado de óleo de soja em ônibus que circulam no sistema de transporte urbano de Curitiba.

Menos poluentes

Hoje são 20 veículos rodando com uma mistura de 20% de biodiesel no produto mineral. Segundo José Domingos Fontana, diretor técnico do Tecpar, a experiência reduziu, em média, de 18% a 33% os índices de medição de poluição. A ALL negocia com a Ecológica Mato Grosso Indústria e Comércio Ltda. (ECOMAT), do Mato Grosso, que tem uma parceria com o Tecpar, fornecimento do biodiesel para as locomotivas. O principal desafio do projeto, segundo Pedreiro, será viabilizar uma escala de produção para atender a demanda da empresa. Segundo o executivo, a ALL está disposta a investir em parcerias para ampliação de produção ou até mesmo na construção de novas fábricas com as empresas do setor.

Decisão tomada

"A nossa decisão está tomada e vamos investir na adoção do biodiesel. Começamos com a ferrovia, que consome 80% do diesel adquirido pela companhia, mas a intenção é levar o projeto também para a frota rodoviária (de 3 mil veículos entre próprios e agregados)", afirma.

Com previsão de faturamento acima de R$ 1 bilhão para 2003, a ALL tem uma frota de 580 locomotivas que operam em uma malha de 15 mil quilômetros de ferrovias na Região Sul do Brasil - sul de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - e Argentina. "Na Argentina estamos fazendo testes para substituir o diesel atualmente utilizado pelo gás", afirma Pedreiro.

Formado por um composto de ésteres de óleos vegetais, resultado de uma reação química entre óleos vegetais e o álcool etílico ou metílico, o biodiesel já é largamente usado na Europa e vem rapidamente ganhando espaço nos Estados Unidos. Considerado uma solução ambientalmente correta - queima de forma limpa, reduz a emissão de gás carbônico na atmosfera, é biodegradável e 100% renovável -, o combustível também é con-siderado economicamente atraente, por reduzir a dependência da compra de derivados de petróleo no mercado internacional. No Brasil, além das experiências com óleo de soja, estão sendo testados, dentre outros, os óleos de amendoim, algodão, girassol, milho, canola e mamona. "O país tem tudo para ser a grande loja de biodiesel para o mundo", afirma Fontana, do Tecpar. "Isso só depende da criação de uma escala de produção e de uma política de parcerias entre governo, institutos de pesquisas, empresas e do setor agrícola como um todo", diz o executivo.

Substituição de importações

O governo federal trabalha com a meta de substituição gradativa de 2% a 5% do diesel mineral pelo renovável. "O Brasil deverá consumir 40 bilhões de litros do produto mineral em 2004, dos quais 15% deverão ser importados. Se tomarmos como base a substituição de 5%, estamos falando de uma demanda significativa - de 2 bilhões de litros de biodiesel por ano", calcula Fontana. Segundo o diretor técnico do Tecpar, ainda não há como prever o comportamento de preços do biodiesel no mercado, já que a produção ainda está limitada a poucas empresas. "Mas a tendência é que o aumento da escala de produção e ou a adoção de políticas de incentivo viabilize preços muito próximos, ou até mesmo inferiores, ao do diesel mineral", afirma.

Cristina Rios
Fonte: Gazeta Mercantil